Arrhenius: a calculadora da Repsol para medir a pegada de carbono dos seus lubrificantes

Convención Moto Dealers Brasil 2024
24 Outubro 2024

Num contexto em que a mitigação das alterações climáticas e a redução das emissões de gases com efeito de estufa se tornaram prioridades globais, a Repsol desenvolveu o Arrhenius, um calculador inovador da pegada de carbono para lubrificantes, que permite medir e gerir o impacto ambiental destes produtos.

Esta ferramenta, cujo nome presta homenagem ao cientista sueco Svante Arrhenius, pioneiro no estudo do efeito estufa, permite quantificar o impacto ambiental dos lubrificantes fabricados na instalação de Puertollano, baseando-se numa detalhada Análise de Ciclo de Vida (ACV).

O projeto, iniciado em 2020 e liderado por Martí Cortada García, Cientista Sénior de Design de Produto da Repsol, envolveu vários departamentos da empresa. Assim, embora o desenvolvimento tenha sido coordenado pela Assistência Técnica e Desenvolvimento, envolveu as equipas de Sustentabilidade, Comercial, Operações, Compras, TechLab, Poliolefinas e Segurança e Ambiente, bem como a fábrica de Puertollano. Actores externos, como as empresas de consultoria ReMa e LRQA, também foram envolvidos na conclusão do processo. 

O resultado é uma ferramenta que permite o cálculo da pegada de carbono e ajuda a identificar os pontos-chave para a descarbonização, contribuindo para os esforços de sustentabilidade da Repsol.

Na seguinte entrevista, Martí Cortada García Para apresenta uma visão mais detalhada sobre o projeto Arrhenius, explicando em profundidade o seu funcionamento, os desafios enfrentados durante o seu desenvolvimento e como esta iniciativa se enquadra na estratégia de descarbonização da Repsol.

Convención Moto Dealers Brasil 2024

Como surgiu o projeto da calculadora Arrhenius?

O projeto surgiu em 2020 devido à necessidade de transformar os nossos negócios e processos para nos adaptarmos aos compromissos ambientais que a sociedade demanda. No princípio, o âmbito estava limitado ao cálculo da pegada de carbono de apenas alguns produtos, mas em 2021 já foi possível ver que se podia sistematizar o método de cálculo para o estender ao portfólio inteiro.

Porquê esse nome?

Foi uma homenagem ao famoso cientista sueco: Svante Arrhenius, quem, já em 1896, escreveu um extenso artigo sobre o potencial impacto da concentração de CO2 na atmosfera sobre o aquecimento global, tendo sido um dos primeiros a interpretar o efeito estufa deste gás.

Dado que esta ferramenta tem como objetivo quantificar a pegada de CO2 dos produtos lubrificantes, pareceu-me que era um bonito tributo a um dos cientistas mais importantes de todos os tempos.

Como funciona o Arrhenius? 

O Arrhenius é, fundamentalmente, uma ferramenta de cálculo que permite quantificar o impacto ambiental em kg equivalentes de CO2 dos nossos produtos lubrificantes na instalação de Puertollano. 

O ponto de partida de Arrhenius é a Análise de Ciclo de Vida (ACV) de um grupo de óleos lubrificantes concretos (a gama Master) e a norma ISO 14067. Estes dois pilares ajudam a determinar todos os processos e elementos que têm um impacto, tanto direto como indireto, na fabricação, comercialização e, inclusivamente, o fim de vida de um produto qualquer e permitem a sua quantificação mediante fatores de emissão.

Marti Cortada

 

Cada etapa contém vários elementos que é necessário quantificar, como é o caso da pegada de carbono das matérias-primas, o que, por seu lado, inclui as suas embalagens e o transporte para a fábrica de lubrificantes. Assim que tenham sido identificados todos os elementos anteriores, é possível proceder ao cálculo da pegada de carbono de qualquer produto. Logicamente, quanto maior seja a qualidade dos dados de entrada, mais fiáveis serão os resultados obtidos.

Marti Cortada

 

Qual foi o seu papel neste projeto? 

Este foi um projeto multidisciplinar que incluiu muitas pessoas da Repsol, desde colegas da área de Sustentabilidade, como também de Produção, Assistência Técnica e Tecnologia. 

Também contámos com o apoio de especialistas externos à Repsol. A consultora ReMa ajudou-nos a assegurar a correta interpretação da norma ISO 14067 e a elaborar um ACV o mais detalhado possível. Para além disso, contámos com a verificadora externa LRQA para certificar todo o processo, a qualidade dos dados e a veracidade dos resultados obtidos. 

O meu papel neste processo foi liderar o projeto, a partir de Tecnologia, assim como desenvolver a ferramenta de cálculo que permite generalizar esta metodologia e acelerar o escalar desde alguns produtos do catálogo de Repsol Lubrificantes até várias centenas.

Qual foi o principal desafio para o desenvolvimento?

Creio que houve vários desafios dignos de menção, mas destaco dois. O primeiro e quiçá menos evidente é a necessidade de coordenação com os distintos fornecedores de matérias-primas. Sem a sua colaboração e a sua boa vontade para trabalhar em projetos similares, nunca teríamos conseguido dados de qualidade para obter resultados finais. 

Outro desafio enorme que encontrámos foi a falta de especificidade na norma ISO 14067. Isto poderia ser uma vantagem, mas no momento de obter resultados coerentes para a Indústria, todos os atores, incluindo os concorrentes, devem colocar-se de acordo na forma de interpretar a normativa. Nesta linha, tanto o API (Instituto Americano do Petróleo) como a ATIEL (Associação Técnica Industrial Europeia de Lubrificantes), juntamente com a UEIL (União da Indústria Europeia de Lubrificantes), desenvolveram as suas metodologias para o cálculo de pegada de carbono, baseadas na ISO 14067 e proporcionando orientação sobre como interpretar pontos mais conflituosos. 

Estas metodologias foram publicadas ao longo de 2023 (API TR 1533 e “Methodology for Product carbon Footprint Calculations for Lubricants and other Specialties” da ATIEL e da UEIL). Recordemos que começámos o projeto em 2020 e que o nosso método foi implementado em 2021. Em 2022 já tínhamos conseguido desenvolver o projeto Arrhenius e estender o cálculo a várias centenas de produtos.

Por que motivo é importante este projeto?

A importância deste projeto é evidentemente crítica, porque é o primeiro passo no caminho da descarbonização. Para poder reduzir as emissões de carbono, primeiro é necessário conhecer o ponto de partida e ser capaz de identificar os pontos de dor e, portanto, de melhoria. Por outras palavras, é necessário identificar cada etapa do ciclo de vida de um produto para saber onde fazer os esforços e dedicar recursos para reduzir a pegada de carbono de forma efetiva.

A título de exemplo, apresento uma possível descrição da pegada de carbono de um lubrificante modelo:

Convención Moto Dealers Brasil 2024

 

Partindo desta informação, parece evidente onde é necessário colocar os esforços para descarbonizar o nosso portfólio. De maior a menor relevância: 

  • Uso de matérias-primas mais sustentáveis.
  • Uso de embalagens mais sustentáveis.
  • Continuar a apoiar as boas-práticas que permitem recuperar materiais no fim de vida.
  • Descarbonização da logística.

Toda esta informação valiosíssima teria sido impossível de extrair sem este projeto.

Desde quando é que a Repsol utiliza esta calculadora? Para que tarefas?

A Repsol está a utilizar esta ferramenta de maneira informal desde a finalização do seu desenvolvimento em 2022. Em 2023 esta ferramenta foi verificada mediante uma verificadora externa e mundialmente reconhecida como LRQA, pelo que os dados obtidos com o projeto Arrhenius desfrutam de uma robustez demonstrada e auditada. A partir desse momento, está disponível para que qualquer cliente considere a pegada de carbono como um parâmetro importante no momento de decidir que produto adquirir. Só têm de o solicitar ao seu representante comercial.

Quais são os planos de futuro para o projeto Arrhenius?

Os planos de futuro para o Arrhenius são claros: integrar a calculadora com outras ferramentas digitais na Repsol e estendê-la a outros centros produtivos da empresa.